Do Alto da Minha Janela (poema- Junho 2005)
Do alto da minha janela
Vejo estrelas e cometas
planetas e sobressaltos
Sonhos que se agitam
Em ânsias de realização.
As pessoas que se misturam
Nas ruas, com os fumos
Dos automóveis barulhentos
São como uma capa negra
E misteriosa
Quem sabe o que existe
Debaixo das fachadas
De pedra estandardizadas,
De um meio sorriso
Utilitário a saber a lágrimas
E a urgência de passar?
Ninguém sabe nem quer saber.
Todos se cruzam e não
Se olham, como os bonecos
De um carrossel no seu frenesim
Eterno, numa alegria infantil
De música de feirante
E sorrisos de criança.
Correm, saltam,
Gritam, andam sem
Saber muito bem para onde,
E no fundo, estão sempre
No mesmo sítio.
Ai, quando se acabar a música?!
Do alto da minha janela
Vejo tudo, as arestas
Das flores,
Os jardins do infinito,
As cestas das rendeiras
E os gritos metálicos
Das varinas
Como buzinas de automóveis
Anunciando uma chegada.
Velhas negras que falam
Nos halos das esquinas,
E os velhos do jardim
Fumando cachimbos de passado
E lendo os jornais
Das suas próprias memórias.
E a correria das crianças,
Com os bibes azuis
E um sorriso apático,
Estalado de betão
E atado com cordas
Feitas de fumo de automóvel
E de tijolo.
Há bêbedos à noite nas vielas
E senhoras enganadoras
Que não enganam ninguém.
Há fúrias de noitada
E aurora de vespertinas
E beatas, caminhando para Igreja,
Rápidas, metálicas,
Como atraídas por um hímen
Que não sabem bem de onde vem.
E os gritos da rádio
De madrugada despontam
Outra empreitada,
O novo dia começa
Na preguiça dos edredões.
Do alto da minha janela,
Vejo tudo,
Os gatos dos telhados,
Os pássaros confinados
A gaiolas de metal
E os cães lazarentos,
Abandonados nas estradas
Em caminho de férias,
Que se misturam
Com les chiens das
Madames bem vestidas,
A cambalear nos saltos altos
De porcelana,
E com a boca fechada,
Sempre muito fechada.
Não vá trai-las
E Virgílio ser afinal
Uma revista cor-de-rosa
Numa cassete de feira
Que toca para suavizar Bethoven
Ou os nocturnos de Chopin.
E há os carros negros
De empresários,
As pastas de estratos
De contas de multinacionais
E lingeries de secretárias
Silenciosas.
Os assessores, os ministros,
Os inspectores,
E todos os outros «ores»
Que não se sabe muito bem
O que fazem,
Mas que recebem sempre
Dois vinténs por fora
Para fazer aquilo
Que seria suposto que fizessem
Porque o contribuinte,
Estripado,
Lhes paga o ordenado.
(Pobre otário!).
Lá longe está a Primavera,
Adiante dos fumos
Furiosos, felizes, dos carros
Das cidades, das varinas e
Das beatas, das crianças
E das pessoas que comuns,
Que passam, passam,
Passam,
Passam umas pelas outras
Eternamente, Indefinidamente,
Como o leito de um caudaloso
Rio, em que a força da torrente
Nos impede de ver a identidade
Que existe em cada gota de água.
Há andorinhas que partem
Dos campanários das Igrejas,
Narram em epopeias
De azul, vitórias
Em terras de África,
Com a pena de Camões.
No alto da minha janela,
Tão alto,
Uma brisa sopra
Quase a desaparecer.
23/06/05
Vejo estrelas e cometas
planetas e sobressaltos
Sonhos que se agitam
Em ânsias de realização.
As pessoas que se misturam
Nas ruas, com os fumos
Dos automóveis barulhentos
São como uma capa negra
E misteriosa
Quem sabe o que existe
Debaixo das fachadas
De pedra estandardizadas,
De um meio sorriso
Utilitário a saber a lágrimas
E a urgência de passar?
Ninguém sabe nem quer saber.
Todos se cruzam e não
Se olham, como os bonecos
De um carrossel no seu frenesim
Eterno, numa alegria infantil
De música de feirante
E sorrisos de criança.
Correm, saltam,
Gritam, andam sem
Saber muito bem para onde,
E no fundo, estão sempre
No mesmo sítio.
Ai, quando se acabar a música?!
Do alto da minha janela
Vejo tudo, as arestas
Das flores,
Os jardins do infinito,
As cestas das rendeiras
E os gritos metálicos
Das varinas
Como buzinas de automóveis
Anunciando uma chegada.
Velhas negras que falam
Nos halos das esquinas,
E os velhos do jardim
Fumando cachimbos de passado
E lendo os jornais
Das suas próprias memórias.
E a correria das crianças,
Com os bibes azuis
E um sorriso apático,
Estalado de betão
E atado com cordas
Feitas de fumo de automóvel
E de tijolo.
Há bêbedos à noite nas vielas
E senhoras enganadoras
Que não enganam ninguém.
Há fúrias de noitada
E aurora de vespertinas
E beatas, caminhando para Igreja,
Rápidas, metálicas,
Como atraídas por um hímen
Que não sabem bem de onde vem.
E os gritos da rádio
De madrugada despontam
Outra empreitada,
O novo dia começa
Na preguiça dos edredões.
Do alto da minha janela,
Vejo tudo,
Os gatos dos telhados,
Os pássaros confinados
A gaiolas de metal
E os cães lazarentos,
Abandonados nas estradas
Em caminho de férias,
Que se misturam
Com les chiens das
Madames bem vestidas,
A cambalear nos saltos altos
De porcelana,
E com a boca fechada,
Sempre muito fechada.
Não vá trai-las
E Virgílio ser afinal
Uma revista cor-de-rosa
Numa cassete de feira
Que toca para suavizar Bethoven
Ou os nocturnos de Chopin.
E há os carros negros
De empresários,
As pastas de estratos
De contas de multinacionais
E lingeries de secretárias
Silenciosas.
Os assessores, os ministros,
Os inspectores,
E todos os outros «ores»
Que não se sabe muito bem
O que fazem,
Mas que recebem sempre
Dois vinténs por fora
Para fazer aquilo
Que seria suposto que fizessem
Porque o contribuinte,
Estripado,
Lhes paga o ordenado.
(Pobre otário!).
Lá longe está a Primavera,
Adiante dos fumos
Furiosos, felizes, dos carros
Das cidades, das varinas e
Das beatas, das crianças
E das pessoas que comuns,
Que passam, passam,
Passam,
Passam umas pelas outras
Eternamente, Indefinidamente,
Como o leito de um caudaloso
Rio, em que a força da torrente
Nos impede de ver a identidade
Que existe em cada gota de água.
Há andorinhas que partem
Dos campanários das Igrejas,
Narram em epopeias
De azul, vitórias
Em terras de África,
Com a pena de Camões.
No alto da minha janela,
Tão alto,
Uma brisa sopra
Quase a desaparecer.
23/06/05
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