quarta-feira, maio 03, 2006

Antemanhã (F. Pessoa - Mensagem)

O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse, «Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quere desvendar?»

E o som na treva de elle rodar
Faz mau o somno, triste o sonhar.
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar,
Que veio aqui seu senhor chamar –
Chamar Aquelle que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.

2 Comentários:

Blogger Edgar V. Novo disse...

Só agora descobri o teu blogue e fiquei agradavelmente impressionado. Um blogue sério, interessante, sólido e de uma escrita muito boa. Muito raro nos tempos que correm. Apreciei e farei menção disso no meu (e de quem quiser) mísero blogue.
Continuação de bons posts!

04 maio, 2006 04:01  
Anonymous Anónimo disse...

"O Mostrengo

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
voou três vezes a chiar,
E disse: "Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?"
E o homem do leme disse, tremendo:
"El-Rei D. João Segundo!"
(...)
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De el-rei D. João Segundo!"
(F. Pessoa - Mensagem)
M J C

04 maio, 2006 21:54  

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