quarta-feira, maio 24, 2006

Carrilho e os Media

Depois de ter visto o «Prós e Contras» desta segunda-feira e desfolhado o livro de Manuel Maria Carrilho, sinto-me finalmente em condições de fazer um breve comentário sobre a polémica que o vereador socialista na CML tem levantado com o relato da sua campanha autárquica de 2005.
Primeiro um ponto prévio. A questão de “Carrilho” parece-me poder ser analisada sob dois pontos de vista: um mais restrito, que versa naturalmente sobre o teor dos factos descritos, das acusações avançadas e do comportamento da comunicação social no caso concreto que o autor nos dá a conhecer; outro mais amplo, englobando o papel dos mass-media na nossa “Democracia Mediática”, a sua relação com a política e com os protagonistas políticos, e a ética (ou ausência dela) que se manifesta na actividade jornalística.
Relativamente à primeira dimensão do problema, não posso deixar de admitir que ao longo destes dias, Manuel Maria Carrilho tem roçado tranquilamente o ridículo. Porque não consegue provar muitas das acusações que levanta, porque faz afirmações – em que quer deixar transparecer um certo teor de inocência – que não fazem o menor sentido (só se compreenderiam se estivéssemos diante de um estreante e não de um homem com alguns anos de experiências nas lides políticas), porque a sua teoria da “cabala” (corresponda ou não à verdade), tem muitos pontos mal explicados, fáceis de refutar. Em suma, porque, por mais que tente, não consegue fazer passar a mensagem de que o seu objectivo ao editar o livro, é discutir uma questão séria, e não fazer um ajuste de contas ou um exercício de vitimização gratuita.
Se o modo como alguma comunicação social lidou com esta candidatura, esteve longe de se pautar por critérios de natureza ética, também há que reconhecer que a sua constante e incoerente oscilação entre uma postura de seriedade e a demagogia (neste ponto partilho sem reservas da posição de Pacheco Pereira) ofereceu o terreno ideal para estes comportamentos, que, tenham ou não sido intencionais, e sendo naturalmente condenáveis (recordo-me por exemplo da constante exibição da “cena do aperto de mão” pela SIC NOTÍCIAS, descontextualizada da situação concreta em que ocorreu), não começaram nem (infelizmente) vão terminar com Carrilho.
Por outras palavras, e introduzindo a segunda dimensão do problema, não estamos perante uma postura desonesta da comunicação social, criada especialmente a pensar na candidatura de Manuel Maria Carrilho ou noutras de natureza análoga.
Os media, que muitos já designaram como o «quarto poder» (numa alusão metafórica à estrutura tripartida de separação de poderes das Democracias Liberais), assumem efectivamente um papel fundamental na modelação da opinião púbica, o que lhes confere o estatuto de veículo de informação privilegiada no contexto da Democracia Pluralista e Competitiva. E o que temos assistido, não só em Portugal como por todo o Mundo Civilizado, é ao esvaziamento de critérios éticos deste sector, que muitas vezes, alinhando-se como verdadeiramente intocável, lança escândalos, inicia polémicas, deturpa a verdade dos factos, dá o relevo que entende a situações absolutamente insignificantes e faz desaparecer da agenda os temas centrais. Tudo isto sem qualquer controlo (ou com mecanismos de regulação muito débeis, padecendo dos tradicionais problemas das entidades reguladoras), ao sabor do chamado “interesse jornalístico” – critério mais comercial do que editorial, tido quase como indiscutível – ou ao serviço de outros interesses que se figurem mais relevantes.
Manuel Maria Carrilho viu-se envolvido na teia de actuação da má comunicação social dos nossos dias. Talvez o seu caso tenha sido mais polémico que o de outros, mas o problema não começou aqui. E o que verdadeiramente se extrai de todo este enredo mediático, onde (insisto) muitas vezes, grassa a vitimização, não é mais do que a ideia da necessidade de uma intervenção urgente no sector da comunicação social.

4 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Os Media enfrentam diariamente pequenas "guerras" entre si, para baterem o record de telespectadores, de leitores, de ouvintes. O pior é que nessas "guerras" vale tudo para ocupar o 1º lugar (incluindo difamações, boatos...)!
M J C

24 maio, 2006 18:31  
Anonymous Anónimo disse...

O problema do Manuel Maria Carrilho é ser um imbecil com a mania que é um génio e que merecia ter ganho o «tacho» da presidência da camâra municipal de Lisboa .

24 maio, 2006 21:28  
Blogger Edgar V. Novo disse...

Três coisas:
Primeira- substituiría o advérbio tranquilamente da frase "Manuel Maria Carrilho tem roçado tranquilamente o ridículo" pelos advérbios: insoportavelmente ou esganiçadamente ou desesperadamente.

Segunda: falas da falta de qualquer controlo sobre os media e da necessidade de uma intervenção urgente sobre a comunicação social. Ora, eu pergunto: que tipo de intervenção ou controlo estás a pensar? Sabes as implicações que medidas nesse âmbito poderão ter?

Terceira: temos os media que merecemos. O povo tem as notícias que quer ver. Os meios de comunicação apenas dá o que o povo deseja.

25 maio, 2006 17:34  
Blogger Ricardo Bernardes disse...

Agradeço o teu comentário/sugestões.

O problema da liberdade de expressão e dos seus eventuais limites (porque na minha opinião qualquer liberdade tem limites, basta ver a definição que a própria Declaração dos Direitos do Homem nos dá do facto de sermos "seres livres") será sempre polémico, principalmente porque ainda não o conseguimos discutir sem levantar o fantasma da censura.

Mas é importante que essa liberdade não se tranforme numa "ditadura", (na ditadura da liberdade de expressão) numa liberdade de manipulação, de se fazer tudo o que se entenda. Ainda não tenho uma opinião muito clara sobre a forma como este sector pode ser regulado (uma regulação séria não de fachada), mas admito que é um debate interessante.

Concordo contigo quando dizes que temos os media que merecemos. Mas também me parece que procuramos este tipo de informação, porque continuamos a ser um povo fracamente instruído/culto, com pouco perfil crítico, habituado a acatar com deleite as posições daqueles a quem atibuímos alguma autoridade.

25 maio, 2006 17:49  

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