domingo, julho 16, 2006

Cooperação Estratégica (i)

Sócrates e Cavaco em colisão no TGV”. Com esta manchete do DN de hoje, o jornalismo português dá provas de continuar a preferir uma certa linha de sensacionalismo bombástico, de manipulação das palavras para traduzirem sensações que ampliam a realidade dos factos e impressionam as consciências.
O título deste periódico, lido à letra, levaria qualquer um a entender que o TGV é o tema de uma acesa controvérsia entre Belém e S.Bento, que primeiro-ministro e Presidente da República se desentenderam publicamente em relação a este ponto; contudo, a realidade é bem menos excitante: Cavaco afirmou que um investimento desta envergadura deveria ser objecto de estudos de viabilidade económica, de sérias ponderações custo-benefício enquanto que hoje o PM declarou que abdicar do TGV seria um erro para o desenvolvimento do país.
Abstraindo completamente do teor dos factos, a mensagem principal que nos fica desta manchete, aponta para o desejo desenfreado da comunicação social em produzir notícia à custa da relação institucional entre a Presidência da República e o Governo, a qual, até aqui não deu quaisquer sinais públicos de conflituosidade. Parece-me que é do interesse de Portugal que assim continue a ser (embora possa não ser do interesse de uma certa comunicação social, do jornalismo das manchetes fáceis e do vender papel).
Uma última nota para desmistificar o conceito de “cooperação estratégica” proposto pelo Presidente Cavaco Silva: naturalmente que cooperar significa abertura de parte a parte, tentativa de entendimento. Não significa consenso forçado, unanimismo retumbado. Divergir é o resultado próprio da relação entre duas pessoas inteligentes, que têm ideias próprias, e certamente contrastantes em muitos pontos. Mas da divergência à colisão vai uma distância que só o desejo de vender notícias pode fazer desaparecer tão facilmente.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Inaugurar autoestradas, TGV, e outros meios de transporte fazem realmente falta, principalmente quando se entrar em trabalho de parto! Afinal, as portuguesas, futuras mães espanholas precisam de se deslocar rapidamente para não morrerem, elas e os bébés, antes de chegarem ao outro lado da fronteira!
É claro que o PM e o P só poderiam estar de acordo, para eles está tudo sobre rodas!
M J C

17 julho, 2006 10:21  
Anonymous Anónimo disse...

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