segunda-feira, maio 08, 2006

Divagações sobre o Tempo (III)

Às vezes é aflitivo constatar como o tempo passa depressa, outras vezes pode ser tranquilizante. Sempre que olhamos à distância para algo que só se pode concretizar daqui a alguns anos, temos tendência para pensar que o período de espera até que esse momento chegue será longo e de certo modo penoso. Mas, invariavelmente enganamo-nos.
O tempo corre. Racionalmente temos consciência do seu significado, do peso de um ano, de um mês, de uma hora ou de um segundo. Mas quando observamos o nosso percurso, quando medimos a distância que separa o presente de algum ponto do passado, facilmente concluímos que ele passou depressa demais. Tão depressa que nem sequer nos conseguimos aperceber de todas as alterações que foi provocando à nossa volta.
Quando estamos afastados de alguém ou de algum lugar e depois regressamos mais tarde, conseguimos inventariar com rigor as transformações que se produziram na nossa ausência, e isso, por vezes, para além de nostálgico, poderá ser doloroso. Mas se estamos perto, a alienação é tão grande, adaptamo-nos tão facilmente a cada pequena alteração, que é quase impossível ficarmos surpreendidos com a amplitude da mudança global que elas permitiram.
A não ser, claro, quando nos confrontamos com algum registo do passado. Um vídeo, uma fotografia, um texto onde consta a nossa opinião sobre um determinado assunto. Ao tomarmos contacto com estes pequenos elementos, que apesar do seu carácter fragmentário, frequentemente nos permitem reconstituir a unidade global do tempo a que se reportam, temos verdadeiramente a noção de tudo o que mudou, das diferenças profundas que separaram aquela época do presente. E mais tarde, todos os recortes do presente que agora desprezamos, terão o mesmo efeito no futuro, provocarão o mesmo “choque de consciência”.
Mas nem tudo isto tem necessariamente de ser negativo. A passagem do tempo, dos erros e dos sucessos que deixamos para trás, têm pelo menos o mérito da pedagogia. O passado, por mais indiferentes que lhe queiramos ser, ensina-nos sempre o melhor modo de lidar com o futuro, e por isso, é o nosso ponto de equilíbrio. É certo que não ensina tudo, mas de certo modo tranquiliza, porque o passado está definitivamente fechado, é um tempo de certeza e a segurança humana faz-se sempre de certezas.
Ao longo da vida o homem vai-se tornando melhor, mais completo, mais capaz de lidar com os outros e consigo próprio – apesar da degradação física e mental inerente à ideia de envelhecimento. Assim sendo, o nosso percurso, para além de ser um caminho para a morte, é também um caminho para a perfeição. Só que a primeira atinge-se, enquanto que a segunda nunca passa de uma meta.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

O Tempo é um grande "pirata": quando estamos a fazer algo que nos agrada, ou se estamos com alguém de quem gostamos, passa depressa, demasiado rapidamente!
Quando algo, ou alguém nos é desagradável, então aí, passa tão lentamente!
O passado pode dar-nos a segurança, a certeza; o futuro mostra-nos a insegurança, a incerteza, as dúvidas!
E o Presente? É o momento certo para viver, para agir, e até para errar!
A morte não se atinge - é ela que nos ataca e nos atinge, sempre no momento menos oportuno!
A perfeição não existe, mas a quase perfeição em alguns (poucos) pontos poderemos atingir! Quem sabe quantos de nós lá chegarão!?
M J C

08 maio, 2006 21:46  

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