segunda-feira, julho 03, 2006

Liberdade - F. Pessoa

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Este deve ser um dos poemas mais lindos de F. Pessoa! Vou apontar apenas um dos seus aspectos: as crianças!
"Mas o melhor do mundo são as crianças"-
Infelizmente o ME quer "destruir" tudo o que elas têm de bom: não lhes permite brincar enquanto crescem!
As crianças actualmente têm tantas obrigações: um horário semanal de 38 horas lectivas, trabalhos de casa, estudar(?), trabalhos de grupo... (Até já nem podem ficar felizes quando falta um professor!Logo aparece o substituto!)
(Que bom que era quando faltava um professor e íamos jogar à bola, aos matrecos, às escondidas, às cartas...)
Meu Deus, quando é que brincam as nossas crianças?
Em vez de tantas obrigações para cumprir, não seria melhor dar condições de nascer (em Portugal), alimentá-las bem (sem fome, pensa-se, aprende-se melhor, têm-se melhores resultados escolares num horário mais curto, pode-se ser feliz em vez de revoltado!...)
Ainda bem que já não sou criança, brinquei muito, fui feliz e ainda sei brincar!
M J C

03 julho, 2006 22:28  

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