Civilização e Loucura
Uma vez li um texto que me impressionou de um modo particular. Começava mais ou menos com o autor a manifestar o desejo de “ser louco”, mas daí partia para considerações mais amplas, longe do ridículo que às mentes mais impressionáveis esta introdução pode sugerir.
De facto, será que há alguma coisa mais confortável do que ser louco? Poder dizer tudo o que se pensa, o que sente, fazer tudo o que nos passa pela cabeça sem medo dos erros ou das repreensões. Esperar sempre dos outros aquela condescendência tranquilizadora, o “deixa estar, coitadinho, ele não sabe o que faz”, e depois gritar a quantas pessoas nos passem pela frente, que as amamos ou que não as suportamos, apontar o dedo às injustiças, esbofetear os idiotas (ou a nós mesmos quando caímos nesse estádio), insultar os orgulhosos, os incompetentes, mandar calar os convencidos, humilhar os que humilham, estremecer os que se sentem humilhados, dar um grito na cara dos cínicos: pára de encenar, já sei o que pensas, o que escondes por trás desse sorriso mecânico!
Mas somos pessoas sensatas. Vazias, manipuladas pelo que é conveniente, mas sensatas. E as pessoas sensatas são naturalmente a espécie mais desenvolvida do género dos idiotas, aquela que não parece tão ridícula quanto as outras.
Porque toda a gente ambiciona ser sensato, conveniente ao tempo e ao lugar. Toda a gente ambiciona não chocar, não provocar incómodos nem se meter em apertos. Toda a gente deseja aprender as regras e viver com elas. No fundo, toda a gente se quer dar bem, e para isso é preciso dizer que sim, que concordamos, é preciso dizer que está tudo bem, fechar os olhos, bater na boca, fazer que não percebemos aquilo que se está a passar à nossa volta, ter muita cara de pau e um sorriso elástico, pronto para disparar em todos os momentos, a todos os palermas que possam dar algum proveito.
Diariamente aprendemos a coabitar. E coabitar é sermos cada vez menos pessoas para sermos mais sociais, mais agradáveis, menos agrestes. Coabitar é dar dois beijinhos e tecer um elogio quando apetecia virar a cara para o lado e dizer que está tudo mal. Coabitar é ter um lugar, uma posição, um estatuto. É pertencer a qualquer lado, a qualquer mundo, e depois ser tratado pelos outros de forma consentânea a esse estatuto, sem pestanejar, sem falhar nenhuma das regras que a situação pedir.
Mas os loucos não coabitam. Os loucos vivem no seu próprio mundo, no mundo que os dementes que os rodeiam dizem que é de desequilíbrio. Pobres obcecados pela sua própria civilização!
De facto, será que há alguma coisa mais confortável do que ser louco? Poder dizer tudo o que se pensa, o que sente, fazer tudo o que nos passa pela cabeça sem medo dos erros ou das repreensões. Esperar sempre dos outros aquela condescendência tranquilizadora, o “deixa estar, coitadinho, ele não sabe o que faz”, e depois gritar a quantas pessoas nos passem pela frente, que as amamos ou que não as suportamos, apontar o dedo às injustiças, esbofetear os idiotas (ou a nós mesmos quando caímos nesse estádio), insultar os orgulhosos, os incompetentes, mandar calar os convencidos, humilhar os que humilham, estremecer os que se sentem humilhados, dar um grito na cara dos cínicos: pára de encenar, já sei o que pensas, o que escondes por trás desse sorriso mecânico!
Mas somos pessoas sensatas. Vazias, manipuladas pelo que é conveniente, mas sensatas. E as pessoas sensatas são naturalmente a espécie mais desenvolvida do género dos idiotas, aquela que não parece tão ridícula quanto as outras.
Porque toda a gente ambiciona ser sensato, conveniente ao tempo e ao lugar. Toda a gente ambiciona não chocar, não provocar incómodos nem se meter em apertos. Toda a gente deseja aprender as regras e viver com elas. No fundo, toda a gente se quer dar bem, e para isso é preciso dizer que sim, que concordamos, é preciso dizer que está tudo bem, fechar os olhos, bater na boca, fazer que não percebemos aquilo que se está a passar à nossa volta, ter muita cara de pau e um sorriso elástico, pronto para disparar em todos os momentos, a todos os palermas que possam dar algum proveito.
Diariamente aprendemos a coabitar. E coabitar é sermos cada vez menos pessoas para sermos mais sociais, mais agradáveis, menos agrestes. Coabitar é dar dois beijinhos e tecer um elogio quando apetecia virar a cara para o lado e dizer que está tudo mal. Coabitar é ter um lugar, uma posição, um estatuto. É pertencer a qualquer lado, a qualquer mundo, e depois ser tratado pelos outros de forma consentânea a esse estatuto, sem pestanejar, sem falhar nenhuma das regras que a situação pedir.
Mas os loucos não coabitam. Os loucos vivem no seu próprio mundo, no mundo que os dementes que os rodeiam dizem que é de desequilíbrio. Pobres obcecados pela sua própria civilização!
1 Comentários:
Pelo que percebi, o melhor seria sermos todos loucos, até porque os demasiado sensatos acabam por enlouquecer (de vez em quando)!
Os sensatos acabam por fazer aquilo que não gostam, por "engolir sapos", isto é, por coabitar, mas depois sentem-se mal!
Parece-me que a sociedade nos exige demasiado!
M J C
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