quinta-feira, agosto 31, 2006

Soares, depois do desaire


Li a entrevista de Mário Soares ao DN. Afirma que superou bem a derrota das presidenciais, que se impôs a si próprio um período de afastamento – e não de “nojo” – mas que agora é tempo de seguir em frente, de pensar no futuro.

A busca incessante do horizonte continua a parecer-me admirável para um homem de oitenta e um anos! Creio que é uma lição de vida. Uma lição de nunca desistir, de que vale a pena pensar sempre no que há de vir, porque se ainda vivemos é porque há ainda algo para fazer. No entanto, apesar do clima de optimismo, não consegui deixar de notar alguma nostalgia nas suas palavras, provavelmente natural.

Admiro Mário Soares. Pelo passado, pela postura perante a vida, pelo percurso, certamente repleto de erros e de sucessos, mas marcante nestes trinta e dois anos da IIIª República. Há certamente outras figuras em que me revejo mais convictamente, mas é inegável que Soares continua a merecer o nosso respeito.

Sobre a sua candidatura presidencial falei e escrevi pouco na altura. Mas tive para mim, desde o primeiro momento, a convicção de que foi um erro. Não só pelo “timing” da apresentação e pela falta de apoios de peso, mas sobretudo pela visão deturpada da realidade. Pode não parecer particularmente simpático para o próprio, mas o facto é que, Soares, com o seu perfil histórico e o seu discurso, não é um homem para a vida política do início deste século, que pouco tem a ver com a realidade que conheceu nas suas últimas batalhas eleitorais. As rupturas deram lugar aos consensos, a polarização ideológica à afirmação do centro e à “confusão” de estilos e de discursos dos dois principais partidos do espectro político, os discursos inflamados de projectos, foram substituídos pela acção, silenciosa ou de parcas palavras. Pela postura.

Neste contexto, era impossível que uma candidatura presidencial, apresentada no momento errado, não devidamente planeada e que nunca se livrou da imagem de ser “de segunda ou terceira escolha”, fosse coroada de sucesso. O resultado final não poderia ser mais previsível.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

"a busca incessante do horizonte" é sempre admirável em qualquer idade!
Claro que com um Homem como ele, daquela idade e com todas as experiências vividas poderemos aprender muita coisa: uma delas a ser optimista, a lutar e a resistir enquanto estivermos vivos!
Concordo plenamente com a tua convicção!
M J C

01 setembro, 2006 19:25  

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