quinta-feira, março 02, 2006

Esquerda, Direita e Centro


No século passado, a esquerda e a direita eram pólos de uma discussão teórica na qual não havia lugar para a neutralidade, concepções completamente antagónicas do mundo e da sociedade.
Hoje há quem defenda que tudo mudou. De tal modo que o que distinguiria a esquerda da direita nos nossos dias, não seria mais o discurso ou a ideologia, mas apenas o procedimento, o modo de agir, a metodologia empregue na consecução de objectivos de certa forma unânimes.
Não concordo. Diria que as barreiras ideológicas se esbateram, mas permanecem divergências de fundo, divergências estruturais que não podem remeter-se meramente a uma questão de forma.
Mas é indesmentível que há temas comuns, é indesmentível que ganha importância um certo entendimento moderado, que passa pela busca de uma situação de equilíbrio estratégico através da associação cuidada de elementos programáticos de ambas as áreas do espectro político.
Ora, esse espaço de moderação é o que vulgarmente designamos por «centro». O «centro» não pode ser entendido de per si com uma ideologia; tão pouco pode ambicionar atribuir o mesmo grau de importância às propostas de intervenção que colhe de cada um dos pólos, pois tal seria naturalmente uma incoerência. Mas é seguramente uma tendência, que implica, apesar da coexistência de ambos, o primado de determinados elementos ideológicos sobre outros.
O «centro-direita» e o «centro-esquerda» são as duas orientações moderadas, conciliadoras, que têm dominado a cena política portuguesa nos últimos anos. Não se identificam claramente com nenhum partido político – ao contrário da “esquerda” ou da “direita” “puras”* – mas ocupam um terreno estratégico muito importante nos dois principais partidos do nosso Regime (o PSD no primeiro caso e o PS no segundo).
As vozes mais ortodoxas da vida partidária portuguesa, têm recusado, com alguma veemência estas designações, acusando-as muitas vezes de “revisionistas”, numa tentativa frustrada e também algo deselegante de fugir às evidências. O que seria então o lema da “esquerda moderna” que levou José Sócrates à liderança dos socialistas em 2004, se não uma orientação clara do partido para a área do centro-esquerda? E como explicar a unanimidade dos últimos governos (de áreas políticas diametralmente opostas na formulação mais radical de “esquerda VS direita”) na prioridade a atribuir a questões como a economia ou a estabilização das contas públicas?
O fantasma do “centrão” já não faz qualquer sentido, do mesmo modo que se tornou completamente ridículo aquele pudor “pós-25 de Abril” de não falar em “direita” sem a colar ao “centro”, para efeitos de moderação.
A esquerda, a direita, o centro-esquerda e o centro-direita são quatro orientações políticas distintas, com estilos de actuação e discursos próprios e, se vivemos numa sociedade Democrática e Pluralista, não há nenhum motivo para que não assumamos com toda a tranquilidade com qual delas nos identificamos.

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* - Na verdade o que proponho é que, com as orientações políticas, possamos fazer um raciocínio semelhante ao que Aristóteles propôs para as formas de governo.

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Esperemos que as barreiras ideológicas enfraqueçam e ponham em 1º lugar Portugal e o seu desenvolvimento! M. J. C.

02 março, 2006 21:03  
Anonymous Anónimo disse...

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