Palavras Interditas (*)
Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino, flutuam nas cidades
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me está água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade (1923-2005)
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(*) não tenho por hábito publicar aqui poemas de autores conhecidos.
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino, flutuam nas cidades
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me está água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade (1923-2005)
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(*) não tenho por hábito publicar aqui poemas de autores conhecidos.
1 Comentários:
O poema é lindo, no entanto prefiro os teus originais!
Aí está descrito o cenário perfeito para os românticos / apaixonados! M. J. C.
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