segunda-feira, março 20, 2006

A Crise da Oposição

A derrota expressiva da direita e do centro-direita nas eleições legislativas de Fevereiro do ano passado, parece que ainda hoje faz sentir os seus efeitos nos partidos deste espectro político.
No primeiro ano de governação socialista em maioria absoluta, a oposição de PSD e CDS revelou-se tímida, fraca, débil, imprecisa nas situações que eventualmente poderiam ser mais criticadas, demasiado virada para dentro, desgastada pelos problemas internos de liderança.
Marques Mendes que somou duas vitórias eleitorais confortáveis em pouco menos de um ano de liderança partidária – as Autárquicas de 2005 e as Presidenciais de 2006 – não conseguiu descolar-se do epíteto de líder provisório, e continua placidamente a aquecer a cadeira, até que lá para 2008 algum dos “barões” se digne a sair da sombra e prepare o assalto final ao poder.
De Ribeiro e Castro pouco ou nada há dizer. Um líder acidental, quase forçado pelas circunstâncias, empurrado para a ribalta por falta de melhor, definhou ao longo deste tempo sobe efeito da sua notória falta de carisma, das críticas e das intrigas internas, das picardias, do distanciamento físico e político, dos conflitos e das descoordenações entre a direcção do partido e o grupo parlamentar.
Ao contrário do PSD que atravessa uma fase normalmente conhecida na gíria política como “travessia no deserto”, uma fase igual a tantas outras que já passou, o CDS está mergulhado numa profunda crise de identidade, num conflito ideológico e programático, desprovido que está da iniludível orientação política de Paulo Portas (de direita/extrema-direita, mas clara).
Não é fácil fazer oposição a um governo que está a governar bem, que conta, segundo demonstram os estudos de opinião, com a confiança maioritária dos portugueses, que tem um programa e uma liderança, ou como tanto repete o Engenheiro Sócrates, “uma agenda”. Ora essa agenda, independentemente do facto de conter ou não medidas unânimes ou do agrado de todos, aliada a condições de particular estabilidade (não havia em Portugal uma maioria absoluta de um só partido desde 1991, quando tomou posse o terceiro governo do Prof. Cavaco Silva) dá à acção executiva uma imagem de rigor e credibilidade.
Fazer oposição nestas circunstâncias implica abandonar o “déjà vu”, a estratégia da negação gratuita, do ser sempre do “contra” sem argumentos válidos, sem apresentar alternativas. Um bom governo, num sistema de cariz parlamentar como o nosso, eleva a fasquia da oposição, implica que esta desenvolva a sua actuação com mais rigor e mais exigência, com alternativa (e não apenas alternância), sob pena de ficar apagada, ou cair confortavelmente no ridículo.
Por fim o último dado da equação política actual: o novo Presidente da República. Eleito pela área do centro-direita, e fazendo questão de afirmar inequivocamente essa feição ideológica logo nas nomeações que fez para o Conselho de Estado, Cavaco Silva pode representar para os partidos do seu espectro político (particularmente para o PSD), a esperança de, pelo menos no longo prazo, funcionar como “factor catalizador” das oposições e fonte de desgaste do governo (a sua ideia de “acompanhamento exigente” da actuação do Executivo pode ser entendida nesse sentido).
Parece-me arriscado fazer previsões a esta distância, mas não resisto a dizer que, se desejar tentar a reeleição em 2011, como estou certo que fará, e, sobretudo, se o governo mantiver os altos índices de popularidade de que dispõe, Cavaco não corresponderá aos desejos da sua área política, e “coabitará” pacificamente com Sócrates até ao fim da legislatura. Tal, de resto não se afigura muito difícil, se constatarmos a notória coincidência programática entre o discurso de posse do Presidente e a agenda política do governo.
Vou mais longe: vejo em Cavaco e Sócrates e reedição da relação institucional daquele com Mário Soares, quando dirigia o seu primeiro governo de maioria absoluta e Soares ocupava Belém esperando a reeleição!

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Adorei o "déjà vu"!
E espero que eles consigam coabitar para o bem de Portugal e para conseguirmos a estabilidade de que precisamos!
M. J. C.

20 março, 2006 22:27  

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