O impossível não existe
Em tudo o que antecede a morte,
E a dificuldade é o elemento
Seleccionador dos que estão
Dispostos a lutar.
Falhar é um resultado provisório,
Vencer um ponto de partida
Para outras vitórias.
Tentar é o caminho para o sucesso,
Abdicar é desistir da vida,
Renunciar ao jogo
Sem conhecer os trunfos do adversário.
Morrer só é absurdo quando
Não se consegue verdadeiramente
Viver, quando só se existe,
Se permanece à espera que a morte venha.
A incoerência só é incoerência
Para os incoerentes,
Para os que desistem de a perceber,
E a clarividência não dispensa
A interpretação subjectiva,
A Leitura criadora do «eu».
Temer o futuro é abdicar
Da Suprema Possibilidade,
Repudiar o passado renegarmo-nos
A nós mesmos, e desmentir
O presente, cometer o pecado
Do desperdício.
O Todo só é importante
Se cada uma das partes o for,
E o impossível só se alcança
Quando não se dispensa nenhuma
Possibilidade.
O bem só se sente enquanto tal
Por oposição ao mal,
E a felicidade nunca é
Devidamente entendida,
Se não for precedida pela dor.
Se aqui falhas, além
Acertas, e se já acertaste
Não estás imune de erros,
No futuro, mas também não
Renunciaste em definitivo ao sucesso.
Existir não tem sentido,
O que tem sentido é viver.
E viver não é só mais do que
Existir.
Viver é ser útil,
Aos outros e a nós mesmos.
Viver é sermos solidários
Com os nossos sonhos,
E realistas com os erros.
A vida há-de continuar
A reconstruir aquilo
Que a morte derruba,
A refazer, a reencontrar
Sentidos novos,
Quando tudo parece perdido.
A morte, os sonhos, os projectos,
Os ódios e os afectos,
O passado e o futuro,
Todos hão-de continuar a ensinar
Ao Homem que não existe
Só por acaso.
Que tem algo para fazer
De si e do Mundo.
Que tem algo para mudar.