sábado, setembro 30, 2006

Elites

"- Foge cão que te fazem barão! / - Para onde, se me fazem visconde ?" - adágio popular do século XIX criticando a excessiva nobilitação da burguesia e a construção da chamada «Aristocracia Liberal».
Até finais do século, os governos liberais não pararam de atribuir títulos nobiliárquicos ou facilitar a sua compra a burgueses, pequenos comerciantes da classe média e até estrangeiros. O objectivo era forjar as novas elites, apoiantes do Regime e auxiliar no equilíbrio das contas públicas, tradicionalmente em dificuldades.

Imagens do Século XX (i)

As dificuldades económicas provocadas pela I Guerra Mundial, a contestação social e a fragilidade das Democracias Liberais galvanizaram o apoio popular aos projectos totalitaristas, tanto de extrema-direita como de extrema-esquerda, nas décadas de 20 e 30.
Benito Mussolini e Adof Hitler lideraram dois dos Regimes Autoritários mais repressivos deste período e são contemporâneos de Franco, Stalin e Oliveira Salazar.
A «Quinta-Feira Negra de Wall Street» é o epicentro duma crise financeira que abalou o Mundo ao longo dos anos trinta: a «Grande Depressão». O seu impacto vem pôr em causa a crença liberal de que os mercados se regulavam por si mesmos, dispensando a intervenção do Estado, e abre caminho às teses do economista John Keynes, defensor de um papel mais activo dos poderes públicos no sector económico.
O quadro Metropolis de Otto Dix representa perfeitamente a euforia e o êxtase com que a população europeia viveu a década de vinte. Os «Anos Loucos» seriam apenas um período de transição entre os dois grandes conflitos militares do século.
A I Guerra Mundial (1914-18) foi uma guerra de trincheiras que envolveu dois blocos militares e se converteu no primeiro grande conflito armado do século XX. A Paz de Versalhes, que lhe poria fim, acompanha profundas mudanças geopolíticas no Velho Continente.

Who wants to live forever? - Queen

There's no time for us,
There's no place for us,
What is this thing that builds our dreams,
yet slips away from us

Who wants to live forever,
Who wants to live forever?
There's no chance for us,
It's all decided for us,
This world has only one sweet
moment set aside for us

Who wants to live forever,
Who dares to love forever,
Who dare who dare,
Who wants to live forever,
When love must die

So touch my tears with your lips,
Touch my world with your fingertips,
And we can have forever,
And we can have forever,
Forever is our today,
Who wants to live forever,
Who wants to live forever,
Forever is our today,
Who waits forever anyway?

domingo, setembro 24, 2006

Onde está a alternativa?

O vício inerente ao capitalismo é a distribuição desigual de benesses; o do socialismo é a distribuição por igual das misérias. - Winston Churchill, primeiro-ministro inglês durante a II Guerra Mundial.

Blair, o indesejado


Vaiado no início da conferência anual do Labour, a última em que participa na qualidade de líder do partido, Tony Blair, parece ter sido irremediavelmente atingido por uma onda de impopularidade, que não o abandonará enquanto ele próprio não deixar o número 10 de Downing Street e ceder o lugar a outro.

Por todo o lado as pressões sucedem-se para que deixe o Gabinete, isto apesar do “timing” anunciado, apontar para que o faça apenas no que ano que vem.

Internamente são os receios de um desaire eleitoral nas eleições próximas, o desejo de ocupar o lugar que o PM deixar vago até à dissolução da legislatura; externamente, é o desagrado pelo apoio incondicional à Administração Bush – designadamente na questão da mal sucedida intervenção militar no Iraque –, a impopularidade pelas reformas na Administração Pública e os problemas na economia.

Não me considero um apoiante incondicional de Blair, sobretudo no que toca à política externa dos Governos que presidiu. No entanto, não deixa de me chocar a facilidade com que alguém passa tão rapidamente de herói a tirano, de “bestial a besta”. Sobretudo, choca-me que nos partidos o medo de perder o poder seja tão grande ao ponto de degenerar em ingratidão. Custa-me a perceber como é que alguém que foi tão importante na história recente Trabalhista – regenerando o partido e levando-o ao mais fértil dos círculos eleitorais que havia atravessado – possa de repente ser visto como uma visita indesejada.

Incomoda-me a ética própria da política partidária. Enfim, é da inexperiência!

Max Weber

Há duas maneiras de fazer política. Ou se vive para a política ou se vive da política. Nessa oposição não há nada de exclusivo. Muito ao contrário, em geral faz-se uma e outra coisa ao mesmo tempo, tanto idealmente como na prática

Sugestões

Sugestão de sites e blogues, a partir de agora e em definitivo, do lado direito da página.

sábado, setembro 23, 2006

Do Ser e do Parecer

O sucesso depende do que parecemos e do que mostramos ser. O que somos de verdade é um detalhe irrelevante. Tão irrelevante que, por vezes, até nós próprios nos esquecemos de contar com ele.

O homem de todos os consensos

Dificilmente um homem, que teve a seu cargo as responsabilidades de Souto Moura, poderia ter provocado tanto consenso. A menos de um mês do terminus do seu mandato, a opinião unânime dos interessados, é que a actuação do PGR, foi, no mínimo, para esquecer.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Discursos que embalam

quarta-feira, setembro 20, 2006

Mais uma vez os Pactos

A questão da concertação do Bloco Central em torno da reforma da segurança social, não pode deixar de ser dúbia. Se por um lado, um entendimento entre os dois partidos nucleares do Regime, figura como a única garantia da execução de reformas estáveis, que perdurem para além duma legislatura e resistam ao desejo de “mudar tudo” associado à mudança de governo, por outro, representa a ruptura daquela que é talvez a mais significativa divergência programática entre PS e PSD.
Ainda assim, tentar o pacto seria saudável. Parece é que já não é possível.

Delito de opinião

Incomodam-me profundamente as manifestações públicas de desagrado, as exigências de desculpas e o folclore mediático que algumas organizações islâmicas têm feito em torno das declarações do Papa Bento XVI, da passada semana.

Independentemente da reserva que é exigida a uma personalidade com a relevância internacional do Pontífice, ou do facto da citação do Imperador Bizantino corresponder ou não à sua posição sobre o tema, gostaria de lembrar que no Ocidente, já há algum tempo que qualquer pessoa é livre de dizer o que pensa, que não existe delito de opinião.

E depois, pergunto-me quando foi que estes dirigentes muçulmanos, agora abespinhados e feridos na sua sensibilidade religiosa, se retrataram publicamente das acusações e dos comentários críticos que fizeram à Civilização judaico-cristã? Estarei enganado ou isso nunca aconteceu?

domingo, setembro 17, 2006

Imagens do Poder (iv)

Aníbal Cavaco Silva, fotografo no Palácio de Belém em Lisboa, na qualidade de Presidente da República, envergando a «Banda das Três Ordens», insígnia privativa da Magistratura Presidencial. Na faixa, o verde representa a Ordem de Avis, o vermelho a de Cristo e o violeta a de Sant'iago da Espada. Começou a ser utilizada pelos Chefes de Estado Portugueses durante o século XIX, foi abandonada na vigência da Iª República e retomada pelos Presidentes do «Estado Novo». Após o 25 de Abril, a prática de fotografar o Presidente da República envergando a «Banda das Três Ordens», foi reintroduzida com a investidura do Dr. Mário Soares, embora não haja nenhuma cerimónia protocular prevista para a entrega da insígnia.

Imagens do Poder (iii)


1908 - El-Rei D. Manuel II, último monarca reinante, à saída do Palácio de S. Bento, depois de ter inaugurado a Legislatura.

Imagens do Poder(ii)

Van Loo

O Marquês de Pombal, sentado num cadeirão, sobre um estrado de madeira. A figura surge imponente, apontando para o cais onde se avistam duas embarcações transportando os Jesuítas, expulsos do país pelo alegado envolvimento no atentado contra o rei. Aos seus pés as plantas da Nova Lisboa, edificada depois do Terramoto de 1755 e do lado esquerdo - embora pouco nítida - a estátua equestre de D. José I. O cavalo branco, símbolo do poder, pisa com uma das patas as cobras que se lhe atravessam no caminho, numa alusão clara ao destino dos que conspirassem contra a autoridade régia.

Imagens do Poder

Jacques-Louis David, óleo sobre tela

Coroação da Imperatriz Josefina por Napoleão Bonaparte, depois dele próprio se consagrar Imperador: Catedral de Notre-Dame, Paris, 2 de Dezembro de 1804. O Papa, ao fundo, limita-se a assistir.

sábado, setembro 16, 2006

Uma questão de «pragmatismo legislativo»

Depois de duas tentativas malogradas, o grupo parlamentar do PS está prestes a ver viabilizado o seu projecto de marcação de um referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Apresentada hoje na AR, por ocasião da abertura da segunda sessão legislativa da Xª Legislatura, a proposta socialista, deverá contar com os votos favoráveis de PSD e Bloco de Esquerda, para além do apoio da maioria parlamentar que sustenta o governo.

O CDS afirma-se doutrinariamente favorável ao direito à vida e garante que votará contra no referendo, embora não procure dificultar o processo; já o PCP está ainda a ponderar o sentido de voto, mas, para já, insiste na necessidade da despenalização do aborto por via parlamentar, posição em que é acompanhado pelo PEV, também integrante da plataforma eleitoral em que os comunistas portugueses se apresentaram às eleições Legislativas.

Garantida que está a aprovação parlamentar da proposta –e desta feita, envolvendo um confortável consenso – a decisão da convocação do referendo está ainda dependente do Presidente da República, que é, nos termos da Constituição, o órgão de soberania competente para se pronunciar em última instância sobre a matéria, mas não parece previsível uma recusa de Cavaco Silva, a qual, a acontecer, viria até a contradizer a posição assumida pelo mesmo no decorrer da campanha eleitoral para Belém.

Oportuno em face do actual calendário eleitoral, o referendo, surge então como uma oportunidade única para aprofundar os mecanismos de democracia directa introduzidos pelas últimas revisões constitucionais e chamar os eleitores a pronunciarem-se sobre um tema politicamente caro.

Do ponto de vista duma possível despenalização da IVG, defendida abertamente pelos partidos da esquerda do espectro político e acolhida cada vez mais claramente por algumas franjas do centro e do centro-direita, parece ser o único instrumento eticamente possível de se utilizar para que tal mudança se concretize, visto que foi já em sede de consulta popular que a despenalização foi rejeitada em 1998. Chamar a AR a deliberar unilateralmente sobre o tema, seria pois, apesar de jurídica e constitucionalmente legítimo, uma afronta clara dos partidos à posição já assumida pelos eleitores em referendo e um “golpe de misericórdia” no processo de implementação dos institutos de Democracia Directa há pouco referenciados.

Finalmente, quanto à despenalização da IVG, material ou substancialmente considerada, cumpre recordar, que independentemente das valorações morais que nestes momentos sempre nos ocorrem, a sua aprovação, é apenas um exercício de «pragmatismo legislativo». Com efeito, continuarão a existir abortos voluntários independentemente do Direito Estadual os valorar ou não como crime, o que se pode é combater a sua prática clandestina e oferecer a quem optar por fazê-los, condições médico-sanitárias que lhe garantam um patamar mínimo de segurança.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Orfeu Rebelde (Miguel Torga)

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.


terça-feira, setembro 12, 2006

O Promotor de Diálogos

« Juro solenemente, sobre esta Constituição da República, que se o Sócrates e o Marques Mendes, não se entenderem a propósito da reforma da Segurança Social, eu próprio darei um par de estalos a cada um! »

segunda-feira, setembro 11, 2006

7º PR - Teixeira Gomes


Filho de José Libânio Gomes, um proprietário agrícola abastado e comerciante de frutas, e de Maria da Glória Teixeira, o sétimo Presidente da República Portuguesa, Manuel Teixeira Gomes, nasceu em Vila Nova de Portimão, a 26 de Maio de 1862, no período áureo da Monarquia Constitucional Cartista.

A infância é passada na terra natal, onde frequenta o Ensino Básico e é acompanhado de perto pelos pais. Porém, aos dez anos, é matriculado no Seminário de Coimbra, como era hábito acontecer com os jovens filhos de famílias abastadas, e aí conhece José Relvas, outro importante dirigente Republicano, que se notabilizou ao ter proclamado o novo Regime, em 5 de Outubro de 1910, na sacada do edifício da CML.

Terminados os estudos no seminário, permanece em Coimbra, e ingressa na Faculdade de Medicina, curso do qual acaba por desistir alguns anos mais tarde, contrariando a vontade da família e especialmente do pai. Muda-se então para Lisboa, onde frequenta a Biblioteca Nacional e, após ter cumprir o serviço militar, instala-se no Porto, onde conhece Sampaio Bruno, Basílio Teles, Soares dos Reis, Joaquim Coimbra e Queirós Veloso, publicando com os dois últimos o jornal de teatro «Gil Vicente», enquanto colaborava activamente com outros periódicos.

Os recursos económicos da família, permitem-no viajar com alguma frequência. Por isso, torna-se desde cedo um homem culto e conhecedor do Mundo, atento aos grandes acontecimentos sócio-políticos que marcam a actualidade do seu tempo, com especial destaque para a Revolução Francesa de 1848 e a Comuna, momentos que acompanha de perto e que lhe acentuam a já demonstrada inclinação para o Republicanismo e o Socialismo.

Com cerca de 30 anos, abandona a vida boémia que levava no Porto ao lados dos amigos, reconcilia-se com a família – com a qual rompera depois de desistir do curso de Medicina – e volta a Portimão, onde colabora activamente com o pai nos negócios.

Em 1895, depois de ter serenado definitivamente na vida pessoal e familiar, e ter casado com Belmira das Neves (de quem terá dois filhos) retoma os contactos com os amigos de Lisboa, e a sua presença torna-se assídua nos meios políticos e literários da Capital. Conhece Marcelino Mesquita, Gomes Leal e António Nobre, enquanto se aproxima cada vez mais da causa Republicana, que o levaria mais tarde a uma participação activa na cena política.

Com o derrube da Monarquia em 1910 é convidado para exercer o cargo de representante diplomático de Portugal em Londres, onde enfrenta inicialmente algumas dificuldades, essencialmente devido à rejeição das Autoridades Britânicas ao novo governo português – a qual parece ter sido acentuada pelo facto de, a família real, deposta, se encontrar a residir em Inglaterra - . Mas o seu carisma e o seu espírito cordial, rapidamente lhe permitem conquistar o apreço e a simpatia dos seus pares, sendo também essas qualidades que revela no exercício de todas as outras funções diplomáticas que lhe são entregues pelo Estado Português, até ascender à Presidência da República.

A sua eleição para a Chefia do Estado, acontece na sessão do congresso de 6 de Agosto de 1923, sendo os resultados finais anunciados apenas no final da terceira volta, depois dum escrutínio renhido, em que disputa o cargo taco a taco com outros notáveis como Bernardino Machado e Duarte Leite.

O seu mandato durou apenas dois anos (de 1923 e 1925) e foi marcado por alguns dos problemas mais prementes da Primeira República Portuguesa: a instabilidade político-governativa e a sucessão de Ministérios, a hegemonia do Parlamento e os fracos poderes do Chefe de Estado, acompanhados pela crise sócio-económica e pela debilidade das novas instituição, abaladas pelas perdas de apoios que vão somando ao longo dos 16 anos do Regime.

Face ao clima de crispação e desunião das forças republicanas e à instabilidade política, na impossibilidade ter uma intervenção activa na resolução do problema – pois que a Constituição não permitia que a Presidência da República fosse mais do que uma «Magistratura Simbólica» - Teixeira Gomes entende que não faz mais qualquer sentido permanecer no exercício de funções e decide resignar ao cargo em Dezembro de 1925.

Logo após deixar Belém, abandona Portugal e não tornaria a regressar mais em vida ao seu país.

Em Bougie (Argélia) onde se tinha instalado após abandonar a Presidência da República, desenvolve durante cerca de dez anos uma intensa actividade literária e colabora com vários periódicos portugueses. Vem a falecer em 18 de Outubro de 1941, sendo os seus restos mortais transladados para Portimão, apenas nove anos depois do enterro.

Nesta altura foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-cruz das Ordens Militares Portuguesas.

Cinco Anos Depois

11.09.01

domingo, setembro 10, 2006

Final de Férias

No final das férias sentimos, de forma particularmente penosa, que muita coisa que poderia ter sido feita não foi, que o tempo poderia ter sido aproveitado doutra maneira, que houve dias desperdiçados. Mas também somos compelidos a aproveitar tão bem quanto possível os dias que faltam, a não deixar escapar nenhum minuto, a não nos deixarmos vencer pelo tédio.
Parece que estou neste momento nessa situação, entre o balanço e o projecto do que falta fazer. Mas creio que ainda vale a pena tentar.

sábado, setembro 02, 2006

Confronto de Gerações

Eis a perspectiva do jornalista Mário Bettencour Resendes, de cerca de 50 anos, sobre os jovens e os adolescentes portugueses do nosso tempo. É, ao que diz, o perfil duma geração do «curto prazo»:

O período das férias de Verão serve, entre muitas outras coisas, para que os pais aprofundem a "análise crítica" do comportamento dos filhos adolescentes.Durante algumas semanas, o convívio familiar estende-se por um número de horas diárias que não tem paralelo ao longo do ano civil. E, nessa medida, permite a consolidação de algumas ideias feitas e ainda algumas surpresas, umas mais agradáveis do que outras.Em matéria de ocupação de tempos livres, descontadas as idas à praia e os mergulhos na piscina - quando existe... -, as diferenças não são substanciais relativamente ao que se passa noutros espaços de pausa escolar ou mesmo nos fins-de-semana. Mesmo assim, entre as saídas nocturnas e a consequente "ultrapassagem" das refeições matinais e as intermináveis sessões de playstation, proporcionam-se tempos mais alargados de conversa familiar. Com algum espanto, percebe-se, por exemplo, que a chamada "cultura geral" vai bem mais além do que o afastamento da leitura regular faria supor - embora, muitas vezes, conheçam melhor o que aconteceu há séculos do que a actualidade dos dias anteriores. Confrontamo-nos, ainda, com um conjunto de preocupações que acabam por não se afastar muito, na sua substância, do que acontecia nos nossos tempos de adolescência.Há, no entanto, uma diferença marcante nos ritmos de comportamento diário e que tem a ver com o que surge como uma completa ausência de planeamento. É uma geração que vive no curto prazo: às seis da tarde, partindo do princípio de que já recuperaram da agitação da noite anterior, não fazem a mínima ideia onde estarão a seguir ao jantar. Pode, mesmo, surgir uma combinação de última hora relativamente ao jantar (para desespero de pais avisados, que tinham feito marcações em restaurantes...). E, ao longo da noite, as divagações sucedem-se ao sabor de impulsos de momento, contribuindo para aumentar a angústia parental de quem, graças aos telemóveis, faz questão em saber por onde andam os filhos.Tudo isto custa dinheiro e acontece, sobretudo, nos escalões sociais que acumularam alguma prosperidade nas duas últimas décadas ou que têm o acesso facilitado ao "dinheiro de plástico".É óbvio que a orientação dos progenitores exerce alguma influência, pelo menos nas margens destes comportamentos, mas não há manual de parentalidade cuja observância garanta a excelência dos filhos. Vale a pena, a este propósito, ler o que dizem Steven Levitt e Stephen Dubner no seu Freakonomics. Demonstram, com exemplos variados, que as teses sobre a "parentalidade correcta" têm vindo a mudar em processos de contradições sucessivas, com alguns reputados especialistas a escreverem o contrário do que defendiam há alguns anos. Estudos recentes e aprofundados, levados a cabo nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, "rebentam" com algumas das teses que se supunham mais sólidas sobre a relação entre a natureza e a educação. Em 1998, Judith Rich Harris, uma "avó sem qualquer filiação académica", escreveu um livro "provocador", transferindo para a escola e para os grupos de amigos a influência que os pais julgavam ter na formação dos filhos. Para surpresa de muitos, as ideias de Harris foram aplaudidas por nomes fortes da especialidade. Se quisermos caricaturar, as flutuações de opinião, neste domínio, recordam o que se tem passado com as teses médicas sobre a "boa alimentação". Quem não se recorda, por exemplo, dos propagados malefícios do azeite, agora tão celebrado?Enfim, este fascínio dos adolescentes dos nossos dias pelo curto prazo pode não ser mais do que uma resposta a uma sociedade que entrou em processo de mutação acelerada, com uma multiplicação interminável e concorrencial de solicitações. E este texto pode não ser mais do que uma desfocagem por parte de uma memória obliterada por mais de três décadas de distância. Dirão os optimistas do costume que, "a seu tempo", esta juventude assumirá as rédeas do poder e "cumprirá a sua missão", embora se esteja longe de perceber de que "missão" se trata.Haverá que esperar 15 a 20 anos para se saber de tudo isto. Até lá, custa-me a aceitar a dificuldade em programar um jantar com dois dias de antecedência e, se quisermos ir para o domínio do conhecimento, impressiona o alheamento generalizado sobre a envolvente interna e internacional. Não se lhes pede que saibam quem ganhou a última guerra no Médio Oriente (um enigma que continua a encher páginas de jornais), mas podiam, ao menos, saber que houve uma guerra no Verão...
Fonte: DN
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