quinta-feira, dezembro 29, 2005

Recordando 2005... alguns dos acontecimentos mais importantes do Ano.


· Na política, destaca-se a vitória do PS, com maioria absoluta nas Eleições Legislativas de 25 de Fevereiro. Permitiu devolver a estabilidade à vida política portuguesa e deu-nos um governo credível, para quatro anos, com todas as condições necessárias para enfrentar as principais dificuldades com que o país se debate e operar as reformas de fundo que urgem ser concretizadas.

· Para os Católicos, o acontecimento que mais marcou o ano que agora finda foi a morte do Papa João Paulo II, sem dúvida um dos vultos de maior nomeada da História Mundial no final do século. Um Homem de diálogo ecuménico, de tolerância e sobretudo de alguma abertura, sucedido pelo Cardeal alemão Joseph Ratzinger (Bento XVI), um ortodoxo e conservador da linha dura da Santa Sé, nitidamente aquém das expectativas dos que pretendiam um novo ímpeto reformista que aproximasse a Igreja da actualidade.

· A consagração do SLB como Campeão Nacional de Futebol, onze anos depois de ter ganho o último título, abalou o país desportivo ficando como um dos acontecimentos mais relevantes do ano neste sector.

· Também a morte de Álvaro Cunhal, aos 91 anos, foi um dos acontecimentos de maior destaque deste ano. O ex-secretário-geral comunista foi uma figura central da vida política portuguesa do pós-25 de Abril, e ainda que discordemos das premissas ideológicas que sempre orientaram a sua actuação, deve reconhecer-se nele o espírito de luta, resistência e a invulgar entrega de um homem a uma causa em nunca deixou de acreditar.

· José Fontinhas, ou Eugénio de Andrade pseudónimo com o qual assinava as suas obras, também nos deixou este ano, depois de uma vida entregue à literatura, e deixando uma obra invejável que ficará para o futuro, como testemunho do génio da criação que sempre o acompanhou. Num apontamento de ordem meramente pessoal, permitir-me-ão certamente destacar o poema «As Palavras Interditas», onde a musicalidade das letras se mistura com o silencio das emoções, para nos deixar uma leve mensagem de saudade e nostalgia.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Tudo o que Sabemos (poema - Dezembro 2005)

Precisamos perceber
O que está para lá do Ser,
O que está para lá do
Que vemos, do que Somos.

É urgente que se saiba
Quem somos nós afinal.
De onde vimos?
Para onde vamos?
E para onde esperamos ir?

Nunca se sabe tudo o que
Se quer,
O «Tudo» é sempre demasiado
Para a nossa esfera
De Poder.

Quem julga que sabe
Tudo, dizem que sabe
Muito, mas sabe pouco
De verdade.
E o que sabemos
Só é nosso,
Quando o partilhamos
Com alguém.

Os sábios,
Os verdadeiros
Sábios,
São os que nunca
Desperdiçam uma
Oportunidade
Para aprender.

22/12/05

(mais pensamentos do que poema…
às vezes o tédio dá-nos para aqui!)

domingo, dezembro 18, 2005

Frases e Reflexões



" Há histórias que têm um começo e um fim, outras que começam e nunca acabam, e ainda há aquelas que acabam muito antes de terem sequer tido tempo para começar."

"O tempo passa e aprendemos a evitar os embaraços pelos quais já passámos. Outras vezes caímos nos mesmos erros, quase conscientemente, como se o próprio acto de errar tivesse em si mesmo um bálsamo para o estado de desorientação que nos atravessa."



*IMAGEM: "Gruta da Pratinha", Chapada Diamantina, no Estado Brasileiro da Bahia.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Esperarei a Cidade que me Leva (poema- Julho 2005)


Esperarei a cidade que me leva
Nas arcadas, e os beijos
Da lua cheia, aninhados em
Halos de estrelas e de saudades.

Esperarei sozinho, paciente
Os sombrios cavaleiros
E piratas de castelos,
Bárbaros e salteadores,
Donzelas e seu amores,
Em retoques de um sonho… medieval!

Esperarei ainda além da distante linha
As sombras que se aquecem
De verdade, e as formas que moldam
Lentamente, dos resquícios de um sonho
E da Vontade!

Lá longe vejo o céu unido
Com o mar, infinito,
Disforme, numa massa
Azul serena, potente e inexpressiva
Que tolhe levemente a minha noite
De vigília!

São tantas as promessas, os anseios,
Tantas as palavras não ditas
E só pensadas, tantos os amores
Passados, perdidos, fadados
Aos limites da tristeza.
Que ainda escuto ao longe
O rugido esplendoroso
Duma nau de altivas vagas
Que me leva em sonhos
Para a praia dos segredos.

30/07/05
revisto em Novembro 05

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Saudades do Futuro

Só tenho saudades do futuro,
Do que nunca vivi,
Porque ter saudades é sonhar
E sonhar é ser o que ainda não se é.

Recordo, relembro, revivo com delícia,
Os meus projectos, o que serei,
Ou pelo menos o que quero ser.

E não choro, nunca choro pelo que
Passou. Porque se passou,
Já não faz parte do presente
E só aconteceu porque
Nos restitui ao futuro.
E só o futuro interessa,
Porque nele tudo se realiza,
Até os desejos recalcados,
Do passado e as promessas
Adiadas de um presente apático.

A água do rio não volta
Para trás. Segue sempre o seu percurso
Sem mágoas ou nostalgia
Dos portos que já deixou,
Dos corpos de criança que cobriu,
Dos peixes que envolveu e
Das rochas que esbateu
Durante a caminhada.

O tempo não se repete.
E o momento da recordação,
As lágrimas da nostalgia,
Não são mais do que a abdicação
Voluntária, de um tempo prometido,
Que espera por nós para se cumprir.

01/07/05

(quando não se escrevem textos novos, redescobrem-se os «antigos»).

sábado, dezembro 10, 2005

O Homem e os Sonhos (poema-Agosto 2005)


O Homem é o princípio e o
Fim dos seus próprios sonhos,
O produto dos seus esforços,
Das suas ambições ou da
Sua passividade.

O destino é uma folha de papel
Branca, virgem, pronta para escrever.
E o Homem tem nas suas mãos
O lápis de criar o seu próprio percurso.

Quem espera, espera por si mesmo
e quem roga auxílio
Aos céus, acalenta a sua
Própria força para vencer os desafios.
Os castigos são os erros que não
Evitamos e as suas consequências.
E os milagres o produto
Da esperança do Homem
Na sua força, na vitória.
Se queres chegar ao mar
Não esperas que ninguém te
Leve, ou ficarás na praia.
Caminha, avança,
Parte sozinho e navega-o
Até onde desejas alcançar.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Um Grito de Liberdade - Carta de uma Exilada" - (Maio 2005)



Paris, 20 de Maio de 1968

Querida mãe,

Como tem passado? Como vão o paizinho e os meus irmãos? E a avó Zulmira? Sempre com a boa disposição do costume?
Comigo está tudo bem. Estou a escrever-lhe de Paris onde me instalei há seis meses, desde que parti para o exílio. Lamento não ter dito nada antes, mas receava que as minhas cartas fossem interceptadas pela PIDE e que isso viesse a causar-lhes problemas. Mas agora não consegui apartar mais as saudades e decidi arriscar, desejando do fundo do coração que esta carta chegue ao destino e vos vá encontrar de boa saúde.
Alguma novidade da nossa terra? Pergunto com esperança, mas estou absolutamente convicta de que não aconteceu nada de novo. O Salazar continua agarrado ao poder como o mesmo entusiasmo de há trinta anos, o povo está cada vez mais na miséria e os nossos homens continuam a morrer na guerra de África.
Às vezes pergunto-me se isto alguma vez vai mudar, se algum dia poderei regressar à minha Pátria e encontrá-la um país Democrático e em Paz. Um país onde todos sejam livres de dizer o que pensam e sentem e não se derrame mais o nosso sangue por uma causa em que não acreditamos.
Falam em Deus, clamam por Deus, mas se ele existe, não sei onde está que não derrama a sua bênção sobre a nossa pobre terra aflita, atrasada e embrutecida pela crueldade de um poder obtuso e mesquinho, que nos vota ao esquecimento e castiga os que sonham em libertar o país.
Portugal não mudou, mãezinha. Estou certa de que tudo continua exactamente no mesmo marasmo que aí deixei. Mas de França não se pode dizer o mesmo. Este mês tem sido de uma enorme confusão em todo o pais, especialmente aqui em Paris que é onde me encontro. Os Estudantes de Nanterre revoltaram-se, liderados por um rapaz irónico e insolente que enfrentou um Ministro e um polícia duas vezes maior que ele. Chama-se Daniel Cohen-Bendit, mas é conhecido por Dany.
A mãe não sabe, mas ele tem conseguido pôr tudo em polvorosa! Tomaram a Universidade de Nanterre, ocuparam a reitoria, suspenderam as aulas e boicotaram os exames. O governo mandou vir a CRS com cacetes e granadas de gás lacrimogéneo, mas nem assim acabou com a revolta. Pelo contrário, ainda a piorou. Na verdade, este movimento que começara a 22 de Março com os estudantes de Nanterre, estendeu-se à Universidade de Sorbone e a todo o país.
Pelas paredes, surgiu uma infinidade de slogans, do género «É proibido proibir», «Toma os teus desejos por realidade» e ou «Não confies em ninguém com mais de trinta anos».
Os estudantes estão em êxtase, e com a sua utopia querem romper os espartilhos da sociedade massificada do pós-guerra, derrubando o «Conservadorismo Burguês». Clamam por um Novo Mundo que dizem estar a nascer, querem uma sociedade mais justa e mais aberta e no fundo, fazem tremer o poder instituído e o Presidente De Gaulle.
A 1 de Maio os trabalhadores juntaram-se à luta, e os sindicatos organizaram com as Associações de Estudantes, manifestações gigantescas e greves que têm paralisado o país. O governo reage com a força da CRS, a repressão das matracas e dos gás lacrimogéneo. Mas o povo não desiste! Na noite de dez de Maio ergueram-se barricadas na cidade e os manifestantes responderam aos ataques da polícia com paralelos da calçada. Apesar das dezenas de feridos, ninguém deu parte de fraco e o Poder sentiu a força do Povo!
No dia 13, dia da Greve Geral, mais de 600 000 manifestantes desfilaram nas ruas de Paris, indiferentes à repressão dos CRS, gritando palavras de ordem contra o General De Gaulle e o governo de Pompidou. O poder está nas ruas e a revolta parece agora impossível de controlar-se.
O Presidente da República chegou anteontem de uma visita de Estado ao estrangeiro, e, ao que tudo indica, prepara-se agora para reagir. Mas o povo está unido e mobilizado, não vai desistir facilmente. Quem sentiu na pele a força bruta das matracas do corpo de intervenção não desiste ao primeiro embate!
Paris da segunda metade do século XX, parece de novo invadida pelo espírito anárquico da Revolução Francesa, e os gritos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, partem dos corações oprimidos contra uma Bastilha ideológica, refugiada no Eliseu.
Sei que estou a divagar, mãezinha. Danton, Robespierre, não lhe dizem nada. Mas eu sinto-os como os ecos de uma revolução inacabada, que há de varar o Mundo. E vejo, na nossa Pátria adormecida, os clamores de apoio ao Cohen-Bendit que vai destronar o Regime.
Salazar, é feito de sal e azar, como disse Pessoa. E o azar em que mergulhou o nosso país há de sucumbir aos clarins de guerra que anunciam a revolução e a Nova Era. De Paris para o Mundo, sinto um grito de liberdade que atravessa a História, quebra os estereótipos e a tirania e devolve as Nações ao Futuro.
Nos slogans de Maio, nos gritos eufóricos dos estudantes, nova gerações de progresso, vejo a repulsa do Homem à submissão barata e à exploração mental e ideológica. E como os obreiros de Maio, de paralelo em punho, contra as matracas, vejo-me cercada dos meus camaradas, nas ruas de Lisboa até S. Bento, entrando de rompante para destronar o tirano.
Sou utópica, sonhadora, idealista, tudo isso de que me acusava quando me viu a fugir dos “senhores da noite”, de olhos postos na sombra à procura de prezas, predadores da palavra, carcereiros do pensamento e da ideia alheia. Mas é do sonho que parte a realidade. É o sonho de um Portugal livre que a Democracia se vai construir, e por vontade de Deus que vela a nossa Pátria adormecida.
Como diria Pessoa: “Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”.

(escrito em 08/05/05

sexta-feira, dezembro 02, 2005

As Feras (poema - Dezembro 2005)

Este é o circo das feras.
Ferozes, fétidas, sedentas
de escrever com sangue alheio
as linhas que definem o seu próprio sucesso.

As feras falsas, De falas mansas,
beijam o rosto das presas
que devoram nas emboscadas.
Lambem, velhacas,
Famintas,
As feridas que elas
Mesmas criam na carne alheia.

São feras de dentes aguçados
E sorrisos lacónicos,
Que sobem as escadas estreitas
Do sucesso,
Sobre as cabeças cortadas
Dos que deixam pelo caminho.

As feras fingem, enganam,
Traem e dissimulam.
As feras, felizes, contidas,
Ouvem os aplausos de outras
Tantas feras, ilustres
Que só esperam
Mais cabeças para chegarem
Onde querem.

01/12/05
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