segunda-feira, maio 29, 2006

Opiniões

Não tens de ter opinião sobre tudo nem de dar a tua opinião a todos - eis um conselho sábio que me deram há cerca de um ano. Parece que agora estou a perceber que tem fundamento.

domingo, maio 28, 2006

28 de Maio de 1926


Há precisamente 80 anos, Portugal dava o primeiro passo para quase meio século de Ditadura. O Golpe Militar de 28 de Maio de 1926, não teve uma organização exemplar nem um líder carismático, mas veio, com sucesso, pôr termo aos conturbados anos da 1ª República Portuguesa, um regime frágil, desgastado pela instabilidade política, a crise económica e a contestação social, que parecia já não recolher o apoio entusiástico nem dos seus protagonistas.
Durante cerca de 50 anos esta data foi lembrada como um momento heróico, o ponto fundador do Regime de Salvação Nacional; hoje práticamente caíu no esquecimento, mergulhou no anonimato intelectual dos manuais de História.
Parece-me que é importante recordá-la. Porque recordação não significa necessariamente invocação!

sexta-feira, maio 26, 2006

O próximo mês

O próximo mês será o dos Exames escritos da 1ª época, e deverei gastar uma parte importante do meu tempo a prepará-los. Por isso, os post's serão menos frequentes e o blogue perderá algum ritmo. Espero regressar em finais de Junho, na mesma linha que até aqui, e (se possível) com o 1º ano "arrumado".
Obrigado a todos os visitantes

quarta-feira, maio 24, 2006

Carrilho e os Media

Depois de ter visto o «Prós e Contras» desta segunda-feira e desfolhado o livro de Manuel Maria Carrilho, sinto-me finalmente em condições de fazer um breve comentário sobre a polémica que o vereador socialista na CML tem levantado com o relato da sua campanha autárquica de 2005.
Primeiro um ponto prévio. A questão de “Carrilho” parece-me poder ser analisada sob dois pontos de vista: um mais restrito, que versa naturalmente sobre o teor dos factos descritos, das acusações avançadas e do comportamento da comunicação social no caso concreto que o autor nos dá a conhecer; outro mais amplo, englobando o papel dos mass-media na nossa “Democracia Mediática”, a sua relação com a política e com os protagonistas políticos, e a ética (ou ausência dela) que se manifesta na actividade jornalística.
Relativamente à primeira dimensão do problema, não posso deixar de admitir que ao longo destes dias, Manuel Maria Carrilho tem roçado tranquilamente o ridículo. Porque não consegue provar muitas das acusações que levanta, porque faz afirmações – em que quer deixar transparecer um certo teor de inocência – que não fazem o menor sentido (só se compreenderiam se estivéssemos diante de um estreante e não de um homem com alguns anos de experiências nas lides políticas), porque a sua teoria da “cabala” (corresponda ou não à verdade), tem muitos pontos mal explicados, fáceis de refutar. Em suma, porque, por mais que tente, não consegue fazer passar a mensagem de que o seu objectivo ao editar o livro, é discutir uma questão séria, e não fazer um ajuste de contas ou um exercício de vitimização gratuita.
Se o modo como alguma comunicação social lidou com esta candidatura, esteve longe de se pautar por critérios de natureza ética, também há que reconhecer que a sua constante e incoerente oscilação entre uma postura de seriedade e a demagogia (neste ponto partilho sem reservas da posição de Pacheco Pereira) ofereceu o terreno ideal para estes comportamentos, que, tenham ou não sido intencionais, e sendo naturalmente condenáveis (recordo-me por exemplo da constante exibição da “cena do aperto de mão” pela SIC NOTÍCIAS, descontextualizada da situação concreta em que ocorreu), não começaram nem (infelizmente) vão terminar com Carrilho.
Por outras palavras, e introduzindo a segunda dimensão do problema, não estamos perante uma postura desonesta da comunicação social, criada especialmente a pensar na candidatura de Manuel Maria Carrilho ou noutras de natureza análoga.
Os media, que muitos já designaram como o «quarto poder» (numa alusão metafórica à estrutura tripartida de separação de poderes das Democracias Liberais), assumem efectivamente um papel fundamental na modelação da opinião púbica, o que lhes confere o estatuto de veículo de informação privilegiada no contexto da Democracia Pluralista e Competitiva. E o que temos assistido, não só em Portugal como por todo o Mundo Civilizado, é ao esvaziamento de critérios éticos deste sector, que muitas vezes, alinhando-se como verdadeiramente intocável, lança escândalos, inicia polémicas, deturpa a verdade dos factos, dá o relevo que entende a situações absolutamente insignificantes e faz desaparecer da agenda os temas centrais. Tudo isto sem qualquer controlo (ou com mecanismos de regulação muito débeis, padecendo dos tradicionais problemas das entidades reguladoras), ao sabor do chamado “interesse jornalístico” – critério mais comercial do que editorial, tido quase como indiscutível – ou ao serviço de outros interesses que se figurem mais relevantes.
Manuel Maria Carrilho viu-se envolvido na teia de actuação da má comunicação social dos nossos dias. Talvez o seu caso tenha sido mais polémico que o de outros, mas o problema não começou aqui. E o que verdadeiramente se extrai de todo este enredo mediático, onde (insisto) muitas vezes, grassa a vitimização, não é mais do que a ideia da necessidade de uma intervenção urgente no sector da comunicação social.

Porque (Sophia de Mello Breyner Andresen)

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

segunda-feira, maio 22, 2006

40 Anos Depois


Há 40 anos atrás, esta foi a equipa que se classificou em 3º lugar no Campeonato Mundial de Futebol realizado em Inglaterra e ganho pela selecção anfitriã.
Foi o melhor resultado de Portugal na História das suas participações na competição. Um resultado inesperado, porventura com muito menos estímulos do que os que hoje existem para o obter.

PSD, CDS e Oposição

O congresso do PSD deste fim-de-semana, fechou o ciclo de renovação política da ala direita da oposição, e quanto a mim, fechou-o sem grande sucesso.
Do lado do CDS, Ribeiro e Castro que foi a um congresso extraordinário para tentar legitimar a liderança, ficou como sempre tem estado: frágil, desejado por uma maioria discreta do partido (provavelmente pela falta de alternativas mais credíveis) mas com uma oposição interna forte e com rostos conhecidos, que recruta alguns dos seus mais prestigiados elementos entre o núcleo duro do consolado de Paulo Portas (Pires de Lima, ex-Vice-Presidente do partido, Telmo Correia, candidato derrotado na reunião magna dos democratas cristãos em 2005, Nuno Melo, líder da bancada parlamentar e apoiante de Telmo Correia…).
Os apoios de Maria José Nogueira Pinto e Lobo Xavier, foram sem dúvida essenciais para um equilíbrio de forças mais favorável ao Presidente do Partido, mais ainda assim, ao manter-se a querela latente entre a Direcção centrista e o grupo parlamentar (no fundo a verdadeira frente de intervenção de um partido na oposição, com uma máquina mediática débil e um líder a part-time como o do CDS) mantém-se também a inoperância e a descoordenação da estratégia de Ribeiro e Castro, que a meu ver, vem confirmar-se como aquilo que muitos analistas o vaticinaram no momento da sua eleição: um mero “regente”, ou seja, um líder de transição, que vai conduzindo o partido, silenciosamente, entre os tortuosos caminhos de uma legislatura de maioria absoluta socialista, até que Portas se decida a regressar ao seu posto de timoneiro, ou outro notável se afirme, mais pelo carisma do que pelo projecto, tentando uma colagem de última hora ao PSD para chegar ao governo.
O CDS tem um problema histórico grave, que me parece ter começado com a saída de Freitas do Amaral da presidência (mas há quem o situe noutros períodos) e o deixará sempre muito dependente do carisma e do talento individual do seu líder, fragilizando-o indiscutivelmente nos momentos de lideranças fracas. Esse problema é a falta de um programa político claro, de uma ideologia, ou pelo menos de uma linha agregadora das diversas tendências políticas que compõem a sua massa militante (dos liberais aos ultra-conservadores, dos centristas aos democratas-cristãos, dos neo-fascistas à extrema-direita mediática). Por isso os seus resultados eleitorais oscilam vertiginosamente ao sabor das conjunturas (umas vezes terceira força política – com Freitas nas Legislativas de 76 e Portas nas de 2002 -, outras elegendo apenas quatro a cinco deputados, na era negra do “partido do táxi”). Por isso também, frequentemente os analistas vaticinam a sua extinção.
Do lado do PSD, o cenário parece-me mais animador. Marques Mendes sai reforçado, tanto das directas como do Congresso, e tem agora um longo caminho à sua frente até às eleições internas de 2008, que deixarão o partido no limiar das Legislativas do ano seguinte. Nesta linha, são possíveis de descortinar dois cenários relativamente ao futuro e às ambições políticas do Presidente dos social-democratas: ou consegue afirmar-se como “líder da oposição”, marca a agenda política com propostas verdadeiramente alternativas às veiculadas pelo governo (o que não será fácil, se constatarmos que Sócrates é essencialmente um homem de centro, logo, a sua agenda ocupa uma parte significativa do espectro político tradicionalmente dominado pelo PSD); ou mantém-se trepidante e repetitivo como até aqui se tem revelado.
No primeiro caso terá garantida a sua oportunidade de disputar as Legislativas; no segundo, apenas poderá almejar fazê-lo, se a dinâmica política do governo se mantiver em alta, as sondagens projectarem uma possível vitória socialista, e os “barões” do PSD, para não ameçarem o curriculum, preferirem não arriscar disputar a liderança para não darem o seu rosto a uma derrota do partido.
Já aqui disse que, com um governo forte, com uma agenda clara, e a governar bem, se exige uma oposição igualmente forte, uma alternativa, e não meramente uma alternância. Olhando à direita do nosso espectro político (e já não digo à esquerda, porque PCP e Bloco de Esquerda me soam sempre a déjà vu, independentemente do partido do governo) não parece ser isso que encontro.

sábado, maio 20, 2006

Frases

Todos os problemas parecem absurdamente irrelevantes depois de os termos resolvido.

Amanhã não serás mais o que és hoje. Mas não serias o mesmo se o hoje não tivesse existido.

Podia ter feito tudo diferente, ter dito tudo o que não disse. Mas talvez, se o tivesse dito, hoje arrepender-me-ia de não ter optado pelo silêncio.

sexta-feira, maio 19, 2006

Seis Meses

Faz hoje seis meses que este blog foi para o ar.
Bem sei que não é uma efeméride notável, mas não resisti a fazer o registo. Principalmente porque muitas coisas mudaram, para mim, desde o seu início até agora.
Quero deixar o meu agradecimento a todos quantos o visitam e comentam. Obrigado pela paciência.

segunda-feira, maio 15, 2006

Descartes

O pouco que aprendi até agora é quase nada em comparação com o que ignoro. - Discurso do Método

Desconhecidos

Vemos todos os dias as mesmas pessoas, partilhamos o mesmo espaço, uma rotina comum, damos pela falta uns dos outros quando algum de nós não aparece na hora habitual. Mas apesar disso continuamos a ser meros desconhecidos.

Coisas Importantes

Só descobrimos o valor das coisas realmente importantes quando as perdemos, ou corremos o risco de perder.

Galeria dos Estadistas do Século XX (I)









sábado, maio 13, 2006

As 20 Leis da «Sociedade de Massas»


1- A ficção e a realidade confundem-se excessivamente, de tal forma que é difícil traçar uma linha de fronteira entre elas, saber onde termina o real e começa o imaginário ou vice-versa.

2- A aparência sobrepõe-se à substância e a forma ao conteúdo.

3- Os desconhecidos tornam-se aparentemente mais próximos, mas os próximos afastam-se uns dos outros, mergulham na sua esfera individual.

4- O sucesso não depende do talento de cada um, mas da sua capacidade para demonstrar que tem talento, mesmo que não o tenha.

5- A notoriedade democratizou-se, é acessível a praticamente qualquer um, mas desenvolve-se no imediato, tem uma duração efémera, que tende a devolver ao anonimato aqueles que em condições normais nunca deviam dele ter saído.

6- Tende a confundir-se o público com o privado e a respeitar-se pouco a reserva da intimidade, a qual em situação de colisão com o chamado interesse “jornalístico”, acaba sempre por sair derrotada.

7- A qualidade foi relegada para segundo plano e acaba por ser quase vexante para quem se preocupa em prossegui-la. Em alternativa, afirmou-se o império da quantidade e uma lógica de sucessão alucinante, que impede avaliações demoradas sobre o teor do que se transmite.

8- A palavra tem pouco valor, a sinceridade menos ainda. As pessoas gostam de ouvir certo tipo de frases, mesmo que saibam que são falsas, e invariavelmente ficam chocadas quando ouvem a verdade, ou então deturpam a verdade para que ela possa abrir portas ao mediatismo.

9- Oscila-se vertiginosamente entre o amor e o ódio, o heroísmo e imbecilidade.

10- Pensar é uma prática em desuso. É normalmente o impulso que preside às acções, ou então as orientações de raciocínio veiculadas por outrem a quem se atribui autoridade.

11- O seguidismo é condição essencial para uma boa reputação no grupo. O que está bem é aquilo que e generalidade dos seus membros faz, mesmo que muitos não entendam o por quê de o fazer.

12- A cortesia é confundida com debilidade enquanto se afirma a violência, ou pelo menos uma certa frieza nas relações com os outros, um gosto requintado pela indiferença.

13- Os horizontes de cada um começam e acabam na sua própria esfera de acção e pensamento. Por isso os interesses de grupo não só foram relegados para segundo, como pode ser bem visto prejudicá-los.

14- O diálogo é uma perda de tempo, o debate um exercício estéril.

15- As negociações ou protelam-se infinitamente porque nenhuma das partes se afasta um milímetro dos seus interesse, ou, se se encontrarem em patamares hierárquicos diferentes, acabam com a imposição ao mais fraco da vontade do mais forte.

16- Os objectivos de vida ou são exíguos, ou são de tal maneira relevantes que se considera justificável passar por cima dos outros para os concretizar de forma mais rápida.

17- Uma coisa é o que dizem na tua frente, outra é o que dizem nas tuas costas, outra ainda é o que fazem. A traição e a simpatia não são em absoluto incompatíveis. Alguém pode estar a prejudicar-te sem nunca deixar de ser deliciosamente agradável.

18- O do outro é sempre melhor que o meu e eu merecia mais tê-lo.

19- Estou disposto sempre a prejudicar o próximo. Mesmo que não ganhe nada com isso.

20- A cultura deve visar a evasão, a fuga da realidade.

Ricardo Reis

Para ser grande, sê inteiro:nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

sexta-feira, maio 12, 2006

O "chico esperto" (I)

O traço distintivo de um verdadeiro “Chico esperto”, passa pelo facto de contar apenas com a sua própria esperteza. Com essa estratégia, muitas vezes tem sucesso, outras sofre sérias desilusões.

quinta-feira, maio 11, 2006

Revelação

Ontem a certeza, hoje a possibilidade, amanhã a revelação.

Despedidas Discretas

De todas as despedidas possíveis, das mais marcantes às desapaixonadas, temo particularmente as «despedidas discretas».
Porque as despedidas discretas, acontecem quase por acaso, sem lágrimas, histerias ou gritos de saudades. São aquelas despedidas progressivas de que ninguém se apercebe, as despedidas ditadas pelo afastamento. Lentamente, e ainda que o neguemos, vamos ficando cada vez mais distantes das pessoas de que gostamos, e quando nos apercebemos disso, já é tarde demais para recuperar o tempo perdido. Tornámo-nos desconhecidos.

quarta-feira, maio 10, 2006

Ex-Amigos

Será que também existem «ex-amigos»? Assim como os ex-colegas, ex-mulheres, ex-maridos e a(o) s ex-namorada(o)s? E se existirem, será que os «ex-amigos» são necessariamente inimigos?

Willian George Ward

O pessimista queixa-se do vento, o optimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas.

segunda-feira, maio 08, 2006

Divagações sobre o Tempo (III)

Às vezes é aflitivo constatar como o tempo passa depressa, outras vezes pode ser tranquilizante. Sempre que olhamos à distância para algo que só se pode concretizar daqui a alguns anos, temos tendência para pensar que o período de espera até que esse momento chegue será longo e de certo modo penoso. Mas, invariavelmente enganamo-nos.
O tempo corre. Racionalmente temos consciência do seu significado, do peso de um ano, de um mês, de uma hora ou de um segundo. Mas quando observamos o nosso percurso, quando medimos a distância que separa o presente de algum ponto do passado, facilmente concluímos que ele passou depressa demais. Tão depressa que nem sequer nos conseguimos aperceber de todas as alterações que foi provocando à nossa volta.
Quando estamos afastados de alguém ou de algum lugar e depois regressamos mais tarde, conseguimos inventariar com rigor as transformações que se produziram na nossa ausência, e isso, por vezes, para além de nostálgico, poderá ser doloroso. Mas se estamos perto, a alienação é tão grande, adaptamo-nos tão facilmente a cada pequena alteração, que é quase impossível ficarmos surpreendidos com a amplitude da mudança global que elas permitiram.
A não ser, claro, quando nos confrontamos com algum registo do passado. Um vídeo, uma fotografia, um texto onde consta a nossa opinião sobre um determinado assunto. Ao tomarmos contacto com estes pequenos elementos, que apesar do seu carácter fragmentário, frequentemente nos permitem reconstituir a unidade global do tempo a que se reportam, temos verdadeiramente a noção de tudo o que mudou, das diferenças profundas que separaram aquela época do presente. E mais tarde, todos os recortes do presente que agora desprezamos, terão o mesmo efeito no futuro, provocarão o mesmo “choque de consciência”.
Mas nem tudo isto tem necessariamente de ser negativo. A passagem do tempo, dos erros e dos sucessos que deixamos para trás, têm pelo menos o mérito da pedagogia. O passado, por mais indiferentes que lhe queiramos ser, ensina-nos sempre o melhor modo de lidar com o futuro, e por isso, é o nosso ponto de equilíbrio. É certo que não ensina tudo, mas de certo modo tranquiliza, porque o passado está definitivamente fechado, é um tempo de certeza e a segurança humana faz-se sempre de certezas.
Ao longo da vida o homem vai-se tornando melhor, mais completo, mais capaz de lidar com os outros e consigo próprio – apesar da degradação física e mental inerente à ideia de envelhecimento. Assim sendo, o nosso percurso, para além de ser um caminho para a morte, é também um caminho para a perfeição. Só que a primeira atinge-se, enquanto que a segunda nunca passa de uma meta.

A Persistência da Memória (Dalí)

Este é o meu quadro preferido, de um pintor que considero dos mais notáveis do século XX. Já não me recordo bem qual é a interpretação que académicamente lhe é dada pelos especialistas, e na verdade pouco me interessa. Para mim, exprime nitidamente a volatilidade do tempo, a forma flexível como ele passa por nós: rápido em termos gerais, mas lento, quase cruel nos momentos de aflição.

domingo, maio 07, 2006

A queda dum «Anjo»

A pesada derrota dos Trabalhistas nas Eleições Locais da passada semana, precedida por um conjunto de escândalos mediáticos que envolverem as figuras centrais da aritmética governativa, e acompanhada pela perigosa queda de popularidade do primeiro-ministro, pressionaram Tony Blair a reagir, remodelando o Gabinete para tentar conter o desaire final.
Blair está na verdade a atravessar um período de crise profunda. Às desavenças internas causadas pelo apoio incondicional à Administração Bush na Guerra do Iraque, as quais nunca se ultrapassaram por completo, vêm agora juntar-se sinais de desnorte na política económica, e medidas mal recebidas em sectores delicados como o da Sáude (as quais já valeram uma vaia pública à Ministra Patricia Hewitt, quando se preparava para discursar na conferência anual da Associação de Enfermeiros).
Toda a sucessão de escândalos que se abateram sobre o nº 10 de Downing Street, têm dividido a opinião pública britânica, entre os que acreditam que o PM deve merecer uma segunda oportunidade e os que comparam este período negro de Blair à fase final do consulado de Major em meados dos anos 90, havendo ainda os que exigem a demissão do Gabinete e a substituição do primeiro-ministro, protagonizados naturalmente por David Cameron, líder dos Conservadores, que espera a melhor oportunidade para reconduzir o seu partido ao poder.
Permaneça ou não em funções até ao fim da Legislatura (inaugurada, recorde-se no ano passado), a auspiciosa popularidade do primeiro-ministro parece tê-lo abandonado definitivamente, e uma mudança de ciclo político, configura-se quase inevitável.
Tony Blair, 53 anos, chegou ao governo em 1997 e durante alguns anos foi um fenómeno de popularidade. A sua vitória, para muitos inesperada, foi uma “lufada de ar fresco” no panorama político britânico, desgastado por quase 20 anos de liderança conservadora (Tatcher de 1979 a 1990 seguida de John Major de 1990 a 1997). O homem que muitos companheiros de partido acusaram de “revisionista”, remodelou o perfil do Labour, adaptou-o aos temas da actualidade e conduziu-o a um dos ciclos eleitorais mais férteis da sua história. Chega agora ao fim.
Na política, como no futebol, o sucesso dura pouco. Na política, como no futebol, os heróis
fazem-se depressa, mas também caem rapidamente.

Os Senhores que se seguem

Com a sua confortável eleição para a Presidência da República, Cavaco Silva iniciou uma estratégia que pode vir a ter seguidores: a de preparar a dez anos uma candidatura presidencial.
E a essa distância, se não se derem mudanças de fundo (o que em política não é de excluir), não me parece encontrar ninguém mais bem posicionado para disputar a sucessão do Professor, que Durão Barroso e António Guterres.
Em 2016 ambos terão terminado as suas participações na cena política internacional, e de regresso aos "ares pátrios", não terão melhor alternativa para coroar a carreira política do que uma agradável estadia em Belém.
A concretizar-se, esta poderá ser uma disputa interessante. Pelo elevado nível dos oponentes, mas também porque, dado que ambos deixaram o governo de formas muito semelhantes, nenhum poderá acusar o outro de ter fugido!

sábado, maio 06, 2006

Identidade

O Homem é um animal de símbolos. Tudo à nossa volta, os espaços, as coisas, as palavras, os sons, as imagens, nos remete para um significado especial e muitas vezes único. Cada um de nós associa o mundo que o rodeia a situações muito concretas de passado e de futuro, a momentos bons ou momentos maus, a horas intensas, marcantes, ou simples tempos de tédio.
Nada do que nos rodeia nos é completamente indiferente, e no entanto, nenhum de nós, por mais próximos que sejamos, consegue sentir a “realidade” da mesma maneira que o parceiro,
lê-la da mesma forma. Todos somos especialmente únicos, munidos de uma identidade própria e intransmissível, que paradoxalmente, coabita pacificamente com a esfera de anonimato em que nos diluímos.

Ideal

O Ideal não se atinge, contempla-se.
O Ideal não se tem, deseja-se.

Partilha

Sentimos verdadeiramente que uma pessoa faz parte da nossa vida, quando partilhamos com ela o passado.

quarta-feira, maio 03, 2006

Antemanhã (F. Pessoa - Mensagem)

O mostrengo que está no fim do mar
Veio das trevas a procurar
A madrugada do novo dia,
Do novo dia sem acabar;
E disse, «Quem é que dorme a lembrar
Que desvendou o Segundo Mundo,
Nem o Terceiro quere desvendar?»

E o som na treva de elle rodar
Faz mau o somno, triste o sonhar.
Rodou e foi-se o mostrengo servo
Que seu senhor veio aqui buscar,
Que veio aqui seu senhor chamar –
Chamar Aquelle que está dormindo
E foi outrora Senhor do Mar.

Ficção e Realidade (I)

A relação entre a ficção e a realidade não é de concorrência, mas de complementaridade. Nenhuma delas procura aumentar o seu espaço retirando o da outra. Ambas se inspiram e convertem mutuamente, de tal sorte, que aos olhares desatentos, muitas vezes é impossível vislumbrar a fronteira que as separa.

Exemplos

O exemplos servem mais para o bem do que para o mal. Normalmente, gostamos de seguir os outros quando são bem sucedidos, mas dificilmente retiramos dos seus erros a devida lição. A maior parte das vezes temos de experimentar nós próprios a errar para perceber por que é que aquele não era o caminho certo.

terça-feira, maio 02, 2006

Demagogia

A demagogia consiste em convencer os outros daquilo em que nem nós mesmos acreditamos.

segunda-feira, maio 01, 2006

O «Estado Social Exigente»


O «Estado Social exigente» será aquele que, por exemplo, no apoio que presta à população através de subsídios – de desemprego, RSI… - consiga incorporar mecanismos de incentivo, para que o próprio beneficiário do subsídio, se sinta atraído a sair rapidamente da situação de dependência.
Number of online users in last 3 minutes
< Google PageRank blogaqui? Mesothelioma Attorney
Mesothelioma Attorney